quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Finalmente, a Liberdade... ou Ar Puro...



No passado dia 7 de Janeiro regressei a Lisboa e encontrei um país diferente. Neste caso para melhor. Entrando ao final da tarde num centro comercial para me dirigir ao supermercado aí instalado, pude finalmente percorrer os corredores e sentir os odores provenientes das diversas lojas aí instaladas. Não aquele odor nauseabundo a tabaco.
Senti alegria idêntica à que tive quando a idade me permitiu perceber o significado e valor do 25 de Abril. Noção de que afinal é possível ver satisfeito um dos mais elementares direitos constitucionais (direito esse também individual e de personalidade) consagrado e aplicado - o direito à saúde! E ver que o direito a fumar continua protegido (pois, como jurista, considero e advogo que são direitos iguais, apenas e elementarmente a defesa de um implica a abstenção de outro, na medida singela e humilde que o não fumador não prejudica o fumador e o contrário não é exacto, pelo que a Lei e a Educação Cívica apenas têm que tutelar o direito do não fumador - óbvio e lapalissiano!!!). Os fumadores não foram proibidos de fumar; apenas se inverteu a ordem natural das coisas e se legislou para dar assertividade e coerência ao que sempre deveria ter sido a legalidade: fumar é uma excepção e não a regra.
Não posso deixar de transcrever um excerto de um artigo de opinião que sintetiza na perfeição aquilo que penso relativamente a algumas externações histéricas (também por vezes hipócritas e egoístas) que tenho lido e ouvido:
"Nunca tive tanta noção de o tabaco ser uma droga como nos últimos 15 dias, após ler textos alucinados por parte de colunistas habitualmente respeitáveis como Vasco Pulido Valente ou Miguel Sousa Tavares. O que eles têm escrito sobre a nova lei do tabaco, deitando mão a comparações que deviam envergonhar qualquer pessoa que tenha lido dois livros de História, é de tal modo inconcebível que só se explica pela carência de nicotina. Eles fingem que um café inundado de fumo é coisa que não incomoda ninguém. Eles chamam fascismo a uma decisão que chateia dois milhões de portugueses e protege oito milhões. E Sousa Tavares conseguiu mesmo a proeza de afirmar no Expresso, sem corar de vergonha, que a lei faz "lembrar, irresistivelmente, os primeiros decretos anti-judeus da Alemanha nazi". Ora, isto não é texto de um colunista prestigiado - isto é conversa de um junkie a quem o dealer cortou na dose. Faço, pois, votos que os fumadores descompensados acabem de ressacar rapidamente, para o bom senso regressar e nós podermos voltar a lê-los com gosto.
in ‘CAPITALISTAS MEDROSOS E FUMADORES RESSACADOS’, de João Miguel Tavares (jornalista), Diário de Notícias, “Opinião”.'